Democracia Hackeada

O advento da internet e das tecnologias digitais de comunicação inaugurou uma era de transformações profundas nas estruturas de produção, circulação e assimilação da informação. O que inicialmente se apresentava como um projeto de descentralização comunicacional e de democratização do acesso ao conhecimento rapidamente deu lugar a um ecossistema informacional marcado pela hiperconcentração, pela vigilância estrutural e pela manipulação algorítmica da atenção.

A mudança paradigmática que se verificou no modelo de mediação comunicacional, antes unidirecional e centrado em veículos tradicionais, como rádio, televisão e imprensa, cedeu espaço a um modelo multidirecional apenas na aparência, pois a lógica de mediação algorítmica transformou os fluxos de informação em estruturas condicionadas por interesses comerciais e por lógicas de predição comportamental.

Essa transformação acarreta efeitos diretos sobre a autodeterminação individual e coletiva, sobretudo no que se refere ao processo deliberativo e às condições cognitivas necessárias para a tomada de decisões informadas. Em um ambiente saturado por estímulos, marcado pela sobrecarga informacional e por fluxos comunicacionais filtrados por sistemas opacos, a autonomia do sujeito sofre erosões silenciosas, contínuas e muitas vezes imperceptíveis.

Ao se debruçar sobre tais eventos, o livro propõe uma análise crítica e comparada, buscando identificar padrões de manipulação algorítmica, estratégias de engenharia comportamental e dinâmicas de confinamento informacional que possam ter afetado, em maior ou menor grau, a integridade do sufrágio, objetivando analisar de que modo a curadoria algorítmica, ao explorar heurísticas cognitivas e vieses comportamentais, com promete à autodeterminação individual e coletiva, sobre tudo no contexto do sufrágio, afetando a liberdade de escolha, a qualidade da deliberação pública e a integridade do processo democrático e impondo desafios constantes ao Direito e ao Sistema de Justiça. Boa leitura!