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"O conjunto de palavras, mobilizado através de lutas inscritas pela diversidade de sentidos que constroem a coleção "Estudos Feministas por um Direito menos machista", vem através do volume IV se apresentar como resultado de uma proposta coletiva centralizada na temática "Sexismo, Racismo e Desigualdade no Direito brasileiro" fundada desde a inspiração na produção e obra da professora e ativista Sueli Carneiro. Tomadas aqui pelo objetivo em potencializar o conhecimento produzido por mulheres negras que
atuam, estudam, militam e/ou pesquisam n/o campo do direito, a presente obra torna pública a vasta produção de enfrentamentos reais protagonizados por essas mulheres, propondo-se neste contorno como sentido aberto ao reverberar apoio às lutas antirracistas e antissexistas no cenário jurídico-político nacional.
Num país em que a seletividade é marcada pela brutalidade do pacto narcísico dos privilégios racistas, classistas e sexistas forjados
pela distribuição histórica desigual de oportunidades, por mitos que definem sujeitos e pelas marcas de morte assinaladas sobre os corpos da população negra brasileira, em especial contaminadas pelos recortes de gênero, a força de uma escrita tecida enquanto resistência de vida, invariavelmente, só se faz possível através da anunciação de um local político democrático promovido pelas mulheres negras. Essa é a resistência proposta nesta obra ao tomar a sério a pluralidade de vozes que ressoam tons de luta, afeto e compromisso com novas possibilidades de mundo. É através da força duma construção comum, que a luta por direitos como acesso a novos horizontes atravessa as temáticas que aqui se apresentam como nós centrais irrenunciáveis das disputas pela verdade histórica e por horizontes distintos ao da realidade atual brutalmente excludente.
Portanto, o sentido que emerge ao analisarmos os passos percorridos pelas autoras nos demonstra que a produção do conhecimento no Brasil é marcada pelo epistemicídio de tantos saberes não validados pela "Academia" brasileira. Todavia, a potência que desde aqui expõe ao mundo se concretiza no que ensaiam há séculos as feministas negras ao desestabilizar sentidos compreendidos como hegemônicos.
A fissura radical promovida pelo ativismo intelectual feminista negro exige rearranjar sentidos e renovar esforços não só por outros
espectros de sobrevivência, mas, especialmente, por recuperar e ampliar a responsabilidade em dizer-se viva. Faz-se urgente, assim,
confrontar os status privilegiados para acessar um imaginário e um campo de ação sempre presentes, repletos de conhecimento, criatividade, solidariedade, filosofia, história e ancestralidade que revela a ampla existência de corpos forjados em aliança e que se colocam enquanto a única possibilidade de transformação concreta para além de processos de marginalização.
Essas palavras que se constituem aqui enquanto Obra, dessa forma, são sopros que se colocam atentos ao que Sueli Carneiro afirma:
"O protagonismo político das mulheres negras tem se constituído em força motriz para determinar as mudanças nas concepções e o reposicionamento político feminista no Brasil [...] para o alargamento dos sentidos de democracia, igualdade e justiça social, noções sobre as quais gênero e raça impõem-se como parâmetros inegociáveis para a construção de um novo mundo.
Caroline Bispo
Aline Gostinski
Fernanda Martins